Estou convencido que tudo é susceptível à medição quer seja em graus, metros, quilos, etc. Esta convicção leva-me a pensar se existe um termómetro para o teatro, aqui em São Vicente, ou mesmo um barógrafo. Penso que sim.
Como seria possível dizer se uma peça teve sucesso ou não, se agradou o público se valia o preço do bilhete ou não, se tinha alguma função social?
O público de São Vicente possui um termómetro rudimentar fruto de péssimas experiências e da insuficiência de matérias/materiais ou mau uso do pouco existente para a construção de um instrumento de medição de avaliação crítica, de participação mas, sobretudo, para a avaliação e a abertura a novos conceitos, novas ideias, novas propostas, novas experiências, novas matérias, etc.
Agora sou obrigado a contradizer-me pois os grupos de teatro que possuem outras experiências (melhores que as do público) não usaram o seu conhecimento para a confecção de um credível termómetro.
Muitos tomaram do público o seu frágil e débil termómetro e os espectáculos começaram a ser subordinados a esse frágil e débil conceito de medição, ou seja por quantas gargalhadas saídas do público, por quanto tempo durou o riso, em que parte se ouve o riso, se o público gargalhou ou riu. Sendo assim qual será o nome desse instrumento? Será “risómetro”? Será “gargalhómetro”? Esse instrumento acusa da seguinte forma:
- Silêncio na sala – péssimo espectáculo
- Poucos risos – espectáculo razoável
- Muitas gargalhadas e pouca função – sucesso inegável
Exponho isso mas não apresento solução (cada um sabe de si e cada um pensa à medida das suas necessidades). A única coisa que me resta é colocar problemas:
- 1º Problema – existe em relação ao teatro, e não só, um problema sócio-cultural, um problema de informação e formação para uma melhor gestão e equilíbrio de conceitos e juízos.
- 2º Problema – os próprios fazedores de teatro solidificaram este problema subordinando-se a este réptil e débil função que Grotowsky chamou de “Prostituição”. Os artistas passaram a prestar culto ao riso do público (piadas fáceis, comédia flash, pastelão e outros míseros artefactos ou melhor artefardos) e não ao teatro como de meio de educação e instrução do público.
- 3º Problema – a inexistência de um debate sério. É necessário um debate para que os artistas discutam estes problemas. Eles têm que examinar esse termómetro ou até substituí-lo por um mais flexível.
Penso que já chegou a altura de se falar em ideologia, método, caminhos, experiência sobre esta arte que amamos e que podemos amar ainda mais na plenitude das nossas consciências.
Herlandson Lima Duarte