24 agosto 2006

Termómetro Teatral em São Vicente


Estou convencido que tudo é susceptível à medição quer seja em graus, metros, quilos, etc. Esta convicção leva-me a pensar se existe um termómetro para o teatro, aqui em São Vicente, ou mesmo um barógrafo. Penso que sim.
Como seria possível dizer se uma peça teve sucesso ou não, se agradou o público se valia o preço do bilhete ou não, se tinha alguma função social?
O público de São Vicente possui um termómetro rudimentar fruto de péssimas experiências e da insuficiência de matérias/materiais ou mau uso do pouco existente para a construção de um instrumento de medição de avaliação crítica, de participação mas, sobretudo, para a avaliação e a abertura a novos conceitos, novas ideias, novas propostas, novas experiências, novas matérias, etc.
Agora sou obrigado a contradizer-me pois os grupos de teatro que possuem outras experiências (melhores que as do público) não usaram o seu conhecimento para a confecção de um credível termómetro.
Muitos tomaram do público o seu frágil e débil termómetro e os espectáculos começaram a ser subordinados a esse frágil e débil conceito de medição, ou seja por quantas gargalhadas saídas do público, por quanto tempo durou o riso, em que parte se ouve o riso, se o público gargalhou ou riu. Sendo assim qual será o nome desse instrumento? Será “risómetro”? Será “gargalhómetro”? Esse instrumento acusa da seguinte forma:
- Silêncio na salapéssimo espectáculo
- Poucos risosespectáculo razoável
- Muitas gargalhadas e pouca funçãosucesso inegável
Exponho isso mas não apresento solução (cada um sabe de si e cada um pensa à medida das suas necessidades). A única coisa que me resta é colocar problemas:
- 1º Problema – existe em relação ao teatro, e não só, um problema sócio-cultural, um problema de informação e formação para uma melhor gestão e equilíbrio de conceitos e juízos.
- 2º Problema – os próprios fazedores de teatro solidificaram este problema subordinando-se a este réptil e débil função que Grotowsky chamou de “Prostituição”. Os artistas passaram a prestar culto ao riso do público (piadas fáceis, comédia flash, pastelão e outros míseros artefactos ou melhor artefardos) e não ao teatro como de meio de educação e instrução do público.
- 3º Problema – a inexistência de um debate sério. É necessário um debate para que os artistas discutam estes problemas. Eles têm que examinar esse termómetro ou até substituí-lo por um mais flexível.

Penso que já chegou a altura de se falar em ideologia, método, caminhos, experiência sobre esta arte que amamos e que podemos amar ainda mais na plenitude das nossas consciências.



Herlandson Lima Duarte

1 comentário:

Grupo de Teatro do CCP - IC disse...

É um texto muito interessante, sem dúvida. Mas que sofre de três(pelo menos) contradições graves:

1. A primeira contradição é partir do pressuposto de que o riso é algo de negativo, que quem ri são os atrasados mentais dos espectadores que só lá vão - ao teatro - porque querem produzir essa manifestação primitiva chamada gargalhada. Isso não é verdade e torna-se extremamente redutor considerar que a comédia, ou o riso dentro de qualquer género teatral, não pode produzir algo de positivo ou não pode ter função social. O riso sempre teve, desde os tempos mais remotos, no mundo e em Cabo Verde, função social. Claro que nem todo o riso é motivado por questões destas, mas o texto induz-nos para a justificação de um teatro «não prostituido» porque não provoca o riso. Sinceramente, a verdadeira prostituição teatral é aquela que provoca o aborrecimento («O Diabo é o Aborrecimento», diz Peter Brook.)

2. A segunda grande contradição é pensar-se que se pode fazer teatro «apesar» do público. Não se podem esquecer que sem público não pode haver teatro e este é conquistado pela qualidade. Tão simples quanto isto. Se querem falar de S. Vicente digo-vos que alguns dos maiores sucessos de público dos últimos anos do teatro mindelense foram duas das maiores tragédias do teatro universal: Casa de Bernarda Alba, de Garcia Lorca e Romeu e Julieta, de Shakespeare. Não são comédias. O público aderiu. Porquê?

3. Finalmente, a terceira grande contradição é que essa vontade de diálogo manifestada é total e descaradamente contradita pelas acções de quem escreve, onde em vez de se procurar o diálogo, procura-se dramatizar perante a comunicação social, direitos ditos adquiridos pela companhia a que pertence o autor. Essa é uma forma cobarde de promover o diálogo. E de afastar os agentes teatrais uns dos outros. O diálogo faz-se olhos nos olhos, não nas páginas dos jornais.

Finalmente digo-vos que o pior teatro é aquele que pretende impor uma moral. Porque aí torna-se um teatro manitulador e hipócrita.

Um abraço

João Branco